- NÃO, EU NÃO TENHO QUE ACEITAR NADA!
- Calma, Letícia. Não grita comigo, por favor.
Parecia até que as nuvens, clima, deuses ou quem quer que seja responsável por fazer chover, parecia até que sabia, que sentia, que via todo o desentendimento daquelas duas almas. Chovia tanto que o céu era uma grande massa negra e uniforme.
- Desculpa. Eu... Tu sabes que não era minha intenção..
- Tudo bem. Eu se...
- Porque tu tens que ir mesmo?
- Lê, a gente já falou disso tanta e tantas vezes.
- Eu amo você, Ed.
- Eu amo você também, Lê. Bem, bem muito.
- Então pra que diabos tu vais me deixar aqui? Porque? Como assim tu...
- Uma vez um amigo meu me perguntou se abandonar tudo era um ato de coragem ou covardia. Na época, eu não soube responder. Mas eu tenho a resposta dele, hoje. Pra mim, se tu vais atrás do que tu queres, se é o que, nem que seja só na tua cabeça e tu estejas completamente errado, e só se foda, só se arrependa, mas se for o que tu sentes que é o certo a fazer, sentes que chegou a hora.. se for assim, é uma coragem gigantesca. Uma coragem que poucos tem. Porque tuas coisas, livros, dvds, roupas, isso aí você dá um jeito de levar. Mas a parte que r e a l m e n t e importa, as pessoas, essas vão ficar. E é isso que dói.
- Eu..
- Tu mesma tiveste o teu tempo. Deixou tudo, foi embora, tu, um lenço, um documento..
- Haha, engraçadinho. --' É diferente...
- A motivação é a mesma que a minha.
- E o resto? E todo mundo? E eu?
- Os amigos, eu digo AMIGOS, vão estar quando eu voltar. Você também, eu sei.
- Eu vou.
- Fica, vive e faz o que tu tiver vontade. É isso que eu vou estar fazendo.
- E em seis meses você volta...?
- Em seis meses eu volto.
- Nossos caminhos estão se separando, Ed.
- Estão, por hora. O que tu ainda não percebes é que o meu, apenas alguns quilômetros depois, faz uma curva brusca. E encontra o teu.