"Ai de mim, que vivo sem ter ninguém.
Porque a demora se agora
um homem me cai tão bem,
não vejo nenhum porque,
não sou exigente,
mas há requisitos por preencher.
Não quero um Zé qualquer."
Ai de Mim dos Comparsas da Vivenda
Tem dias que meu grau socialização é tão grande que chego a falar com qualquer pessoa da rua e me torno amiga de infância. E isso é sério e sem exagero. E em um desses dias, estava esperando meu ônibus pra voltar pra casa quando certo senhor sentou a meu lado comendo uma maçã. Ofereceu-me um pedaço, eu recusei e agradeci. Ele brincou dizendo que não era a bruxa disfarçada da Branca de Neve e com isso ganhou minha confiança. Gargalhamos muito.
Depois de conhecer a história dele: “Curitibano, 86 anos, militar aposentado, 2 filhos, 5 netos, duas esposas, e uma horta em casa que ele mesmo cuidava”, era a minha vez. Fui soltando pedaços aqui e ali. Ouvir sempre foi minha especialidade em termos de amizade.
Passados uns minutos, ele solta: “Tem homem nessa história. Desembucha que é melhor”.
Ele estava certo, claro. Tem um homem nessa história. E tem uma mulher que tem medo de firmar algum compromisso.
Engraçado. Quem fugia antes eram os homens. 'Taí, vim pra mudar a história. Pois eu estou em fuga. Em fuga em certos momentos. Em outros percorro o caminho de volta. Por vezes, arrependo-me no meio do caminho e a fuga continua.
Gosto do indefinido. Ele não cobra nada e também não é constante. Por que ter que definir? Declarar ao mundo um status? Colocar um anel no dedo?
Dizem que tudo isso funciona como prova de confiança, de amor. Mas veja bem, pra mim não passa de prova de desconfiança.
Pra facilitar tudo, porque não apenas viver? Indo, sabe?
Não consigo me prender. Deve ser trauma. Deve ser a idade. Velha demais? Nova demais?
Não sei dizer. Não sei o que quero. Só sei que não quero ficar só.