25 janeiro 2012

Our house in paradise


De vez em quando tenho um desses dias em que algo muito bom fica programado. Cê sabe como é?
Desses dias em que você espera espera espera imagina espera espera até que
Chega.
Vinte e nove de Dezembro de dois mil e onze.
Só sabia que ia ter um mar molhando os pés e um céu azul clareando a cabeça.
E teve
amor
sorriso
abraço
E porque diabos essas palavras estão no singular?
Tiveram
amores
sorrisos
abraços
e em uma quantidade suficiente pra que ninguém quisesse mais voltar.
O apartamento vinte e nove acabou se tornando um palco.
As apresentações geralmente começavam as onze porque era a hora em que todos estavam sincronizados. Mesa feita. Todos em volta, sem que combinassem nada, sem que fosse hábito fazer isso em casa.
Se preocuparam tanto com a natureza dos mineirais quanto com o rock e pedais.
E perderam as estribeiras no primeiro mergulho naquele mar azul verde azul.
E perderam os celulares.
E esqueceram as havaianas.
E deixaram metade da cabeça lá.
Vamos cozinhar a multa pelos sorrisos até as três da manhã em banho maria, que tal? Mas, aproveite que já tá de pé e coloque a água do cuscuz pra esquentar, tá bem? Já tá na hora de ir a praia.
Não consigo te dizer o que mais marcou não, desculpa.
Foram ladeiras demais, supermercados demais, ônibus demais, e sol e música, e rolés e

v i d a.

Te prometi descrever o que eu vivi. Não consigo. Agora eu te digo o seguinte: só sente quem viveu.
Só sei que teve um céu molhando os pés e um mar zul clareando a cabeça.
E que tenho outro lar.
Apartamento vinte e nove, um dia eu volto, boy.


17 janeiro 2012

Cabeça de Vento


"E a cabeça foi passear.
Foi para um canto remoto de algum bosque pensar sobre as asas dos passarinhos.
Foi fazer diálogos imaginários.
- Como o dia está lindo.
- Concordo, meu bem.
Foi correr com algum animal na beira do rio.
Encontrou o pólen dentro de alguma flor. Sugou tudo e saio voando novamente.
Pensou em você, seja você quem for.
Imaginou futuros possíveis - e impossíveis.
Pensou em voar, pensou em chorar, pensou em evoluir.
Viu aplausos e vaias. Se atentou ao olhar, um pouco apaixonado, um pouco amargo.
Foi para um canto remoto no qual o medo mora. E lá era escuro.
Correu novamente, porque é só isso que se pode fazer. Correr dentro de si mesma.

E num estalo, a realidade."

02 janeiro 2012

Acabou Chorare

"Acabou chorare no meio do mundo.
Respirei eu fundo, foi-se tudo pra escanteio
.
Vi o sapo na lagoa, entre nessa que é boa."













O sol brigava com as folhas e as nuvens para chegar até nós. E ao conseguir, encontrava ainda as garrafas de suco e cerveja que amarramos nos galhos durante a noite toda, acompanhando o ritmo que íamos esvaziando-as. Era um espetáculo lindo de luzes, cores e sons sobre nós.
A cidade estava dormindo ainda. Dava pra ouvir o som do mar se arrebentando nas rochas, e a vontade de dormir sob a sombra, luzes e cores da nossa árvore era tão grande que quando ganhei cafuné da Cris fechei os olhos e apenas me permiti sentir o calor das luzes.
Sempre que eu me permitia sentir as luzes e o calor que delas emanava, lembrava do Oskar, que já tirava seu cochilo sobre a sombra da árvore há alguns minutos. A ideia de amarrar garrafas vazias nos galhos da árvore fora dele. Mas nenhum de nós tinha noção do quão lindo ficaria.
A Cris parara de fazer cafuné. Sinal de que estava tirando seu cochilo também. Abri novamente os olhos. O vento balançava os galhos fazendo as garrafas se tocarem e assim produziam sons quase mágicos. E talvez até fossem. Respirei fundo, e mais fundo outra vez. Às vezes eu tinha medo de espocar de tanta felicidade, como o Oskar costuma dizer.
Um ano havia passado desde que conheci e passei a conviver com todas aquelas pessoas deitadas sobre a sombra, luzes, cores e sons da nossa árvore. Às vezes nem parecia um ano. Às vezes pareciam vidas. E a ausência deles pareciam séculos.
Minha amizade com aquelas pessoas era algo impressionante. Era uma doação de amor sem medidas, sem interesses; era algo que eu nunca tinha provado na vida. Era algo que sempre me dava a impressão de estar em falta com eles. E eu realmente espero estar sempre em falta, porque essa falta só eles são capazes de preencher.