25 julho 2011

Ai de Mim

"Ai de mim, que vivo sem ter ninguém.

Porque a demora se agora

um homem me cai tão bem,

não vejo nenhum porque,

não sou exigente,

mas há requisitos por preencher.

Não quero um Zé qualquer."


Ai de Mim dos Comparsas da Vivenda

Tem dias que meu grau socialização é tão grande que chego a falar com qualquer pessoa da rua e me torno amiga de infância. E isso é sério e sem exagero. E em um desses dias, estava esperando meu ônibus pra voltar pra casa quando certo senhor sentou a meu lado comendo uma maçã. Ofereceu-me um pedaço, eu recusei e agradeci. Ele brincou dizendo que não era a bruxa disfarçada da Branca de Neve e com isso ganhou minha confiança. Gargalhamos muito.

Depois de conhecer a história dele: “Curitibano, 86 anos, militar aposentado, 2 filhos, 5 netos, duas esposas, e uma horta em casa que ele mesmo cuidava”, era a minha vez. Fui soltando pedaços aqui e ali. Ouvir sempre foi minha especialidade em termos de amizade.

Passados uns minutos, ele solta: “Tem homem nessa história. Desembucha que é melhor”.

Ele estava certo, claro. Tem um homem nessa história. E tem uma mulher que tem medo de firmar algum compromisso.

Engraçado. Quem fugia antes eram os homens. 'Taí, vim pra mudar a história. Pois eu estou em fuga. Em fuga em certos momentos. Em outros percorro o caminho de volta. Por vezes, arrependo-me no meio do caminho e a fuga continua.

Gosto do indefinido. Ele não cobra nada e também não é constante. Por que ter que definir? Declarar ao mundo um status? Colocar um anel no dedo?

Dizem que tudo isso funciona como prova de confiança, de amor. Mas veja bem, pra mim não passa de prova de desconfiança.

Pra facilitar tudo, porque não apenas viver? Indo, sabe?

Não consigo me prender. Deve ser trauma. Deve ser a idade. Velha demais? Nova demais?

Não sei dizer. Não sei o que quero. Só sei que não quero ficar só.

19 julho 2011

Tresloucada

E se o tempo que eu tiver for só esse aqui? O agora, o hoje? Isso não tornaria meus desejos imediatos os prioritários?
Meu status atual é: topo o que meu espírito quiser.
E eu te digo logo, ele está porraloca, o meu espírito. Parecendo até um personagem de Angeli.
Não aceita que eu volte pra casa antes que amanheça o dia e muito menos qualquer tipo de preocupação.
Me proíbe de fazer listas, programações ou planejamentos.
De doze em doze horas, injeta em minhas veias uma vontade incontrolável de pegar a estrada, pular os muros, saltar dos galhos.
E se meu espírito sou eu, então é isso o que eu quero.
Subir a serra, saltar de para-quedas, dormir bêbada, acordar bêbada, não me sentir sozinha, comer demais, não dormir, dormir demais.
Agarrar ainda mais os cobertores com a chuva fina da manhã e me embebedar com o calor do sol pela tarde. Enrugar os dedos por ficar tempo demais submersa e depois sair pra refrescar a garganta seca com esses líquidos borbulhantes das garrafas verdes.
Tudo. Eu quero t-u-d-o.

Que venham os dias quentes, as noites frias, pessoas esquisitas em festas estranhas, abraços, amassos e tudo o que tiver de vir.
Eu topo.


Um, dois, três e... .

08 julho 2011

"É pr'amanhã"

Desde pequena sempre me perguntei sobre várias coisas. Por exemplo: Por que criamos o tempo?
Algumas pessoas me respondiam que era pra sermos mais organizados. Outras me responderam que não criamos o tempo, é ele que nos cria.
As duas tem certa razão. Mas não sou nada organizada tendo o tempo ao meu lado ou não.
Fica esse maldito desejo de liberdade querendo se fazer dono de mim, tirando-me do sério, da linha, dos trilhos, das horas regulares de sono, do horário certo de comer, desrespeitando prazos, ignorando os descontos que virão no meu salário por não ser assídua...
E acredito ser isso que me dá a sensação de correria, afobação, quase um pire-paque no coração.
Ledo engano, era tudo culpa da procrastinação. Essa danada que eu abraço todos os dias mesmo sem perceber e que à noitinha sempre paga uma cervejinha pra nós no bar da esquina.
Hoje de manhã perguntaram-me como consigo viver assim: sempre deixando pra cima da hora, por vezes não conseguindo, outras por pura sorte. E simplesmente respondi que é assim que sou feliz. Mesmo quando a pilha de deveres parece ser mais alta do que eu.
Sem prazos, sem horários, sem qualquer coisa que se torne dona de mim. Afinal, nem eu me pertenço.
Já ouviram a canção do António Variações "É pr'amanhã"? Foi feita para os procrastinadores, sem dúvida! Bah tchê, escutem!